Viaduto Santa Tereza: Travessias urbanas

Finalizado em 1929, o viaduto Santa Tereza vem para ligar o centro da cidade aos bairros de Santa Tereza e Floresta, proporcionando uma importante conexão entre as regiões.

No lugar antes havia uma passarela de metal que dava passagem por sobre o Ribeirão Arrudas, ainda descoberto. Entretanto, durante as chuvas o ribeirão transbordava, tornando esta travessia intransponível. O viaduto veio, portanto, solucionar estas questões e se tornou um marco da capital mineira. Confira neste post um pouco mais sobre a sua história!

Emílio Baumgart: um engenheiro moderno

O viaduto foi projetado por Emílio Baumgart, importante engenheiro da época, tendo atuado junto aos círculos arquitetônicos modernistas cariocas, integrados por personagens como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

O viaduto conta com 390 m de extensão, 52 metros de vão e 14 metros de altura, consumindo 700 metros cúbicos de concreto. Sua obra foi pioneira e tornou-se o assunto da época, principalmente pelos seus dois arcos parabólicos.

Desde a sua inauguração, em Setembro de 1929, o viaduto se destaca no palimpsesto urbano, tendo seu reconhecimento coroado com o tombamento municipal, na década de 1990. Integra o Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação.

A Praça da Estação

Com a sua construção iniciada em 1904, a Praça da Estação é um ponto importante para a capital mineira e pode ser vista por todos que passam pelo viaduto. Com a antiga via ferroviária trazendo os materiais necessários para a construção e a implementação da nova capital, a praça ganhou sua primeira torre com relógio público.

Com o crescimento da cidade, em 1922 inaugurou-se um novo edifício para a Estação Ferroviária, em estilo Neoclássico. Atualmente, o prédio abriga o Museu de Artes e Ofícios. A praça é palco para inúmeros shows, manifestações e eventos.

A exposição Cidade Palimpséstica ocupou dois lugares neste conjunto urbano: o Espaço Cultural CBTU e suas estações de metrô, bem como o Centro Cultural UFMG.

Estação Ferroviária na Praça da Estação, hoje Museu de Artes e Ofícios. Fonte: LAFODOC.

Estilo Art Déco

Em estilo Art Déco, o viaduto reflete as influências deste engenheiro de formação e arquiteto de prática. Antecedendo o modernismo e sendo ponte para o mesmo, o estilo surgiu no início do século XX, na Europa, tendo se espalhado pelo mundo.

Caracteriza-se por linhas simples e geométricas, utilização ampla de novas tecnologias construtivas (como o concreto armado), decorações austeras e edificações encorpadas.

Em Belo Horizonte este estilo também era conhecido por pó de pedra, fazendo referência à um revestimento comum utilizado nestas construções da capital mineira. Confira algumas imagens do Laboratório de Fotodocumentação Sylvio de Vasconcellos (LAFODOC/UFMG):

  • Fachada de um edifício massudo e grande, com pessoas andando na rua à frente.

As curvas e as letras

O viaduto inspirou escritores mineiros, sendo Carlos Drummond de Andrade um deles. O poeta, tantos afirmam, inclusive confessou ter escalado seus arcos por diversão. Teria sido abordado por um policial, que foi desafiado a prendê-lo lá em cima e acabou desistindo do flagrante. Drummond viria a se tornar um dos nomes mais importantes da literatura brasileira.

Outro escritor que faz parte da história do viaduto é Fernando Sabino. Mineiro de nascença, no seu primeiro romance, O Encontro Marcado, relata a história de um escritor fracassado, sua relação com os amigos e suas farras de juventude. O enredo se relaciona com o viaduto quando, numa passagem do livro, o personagem principal e sua turma sobem nos arcos, perigosamente seguindo os passos do poeta.

Viaduto Cultural

O Viaduto Santa Tereza é considerado o mais antigo elevado da cidade e não se consolidou somente como um marco de expansão, mas também se tornou um símbolo de Belo Horizonte.

Para além das travessias, o viaduto também é paragem. Se suas curvas sofisticadas representam o sabor da elite de seu tempo, o viaduto se consolidou como um espaço cultural democrático e eclético. É cenário para manifestações políticas, apresentações culturais, ocupações, vendas ambulantes e diversos movimentos sociais. Dividem o espaço ricos e pobres, artistas e moradores de rua.

Uma destas manifestações que expressam este caráter questionador é a Batalha de MC’s. Estas batalhas, que acontecem tantas vezes sem apoio institucional, trazem à tona os problemas de nossa capital e da nossa sociedade.

Duelo de MCs no Viaduto Santa Tereza (2012). Fonte: Circuito Fora do Eixo.

O Duelo de MCs ocupa a parte de baixo do Viaduto Santa Tereza há mais de uma década, com músicas que abordam temáticas sociais sob a perspectiva da cultura popular. O duelo serve como uma vitrine para diversos artistas e muitos se lançaram ali, seguindo uma carreira de sucesso. Em 2017, o local recebeu a final do duelo nacional e reuniu mais de 10.000 pessoas.

O viaduto também acolhe inúmeras festividades e intervenções artísticas, como flashmob, praia da estação, ponto de encontro, balada, shows, teatros e Carnaval. Um dos caminhos de asfalto mais antigos de Belo Horizonte, o Viaduto Santa Tereza ressignificou a pluralidade belorizontina. É o patrimônio cultural que se abre para a tradição, mas também para o novo.

Confira em breve, neste website, a Exposição Travessia

Se você gostou deste artigo também vai apreciar outras travessias. Não somente as literais, como o viaduto Santa Tereza, mas também as metafóricas, que se encontram na Exposição On-line Travessia, desenvolvida pelos alunos do curso de Museologia da UFMG na disciplina Bibliotecas, Arquivos e Museus Digitais.

A exposição teve como inspiração a Cidade Palimpséstica, adotando como ponto de partida o acervo do Laboratório de Fotodocumentação Sylvio de Vasconcellos (LAFODOC/UFMG). Não perca!

Em breve, neste website, o lançamento da Exposição On-line Travessia!

Texto desenvolvido pelos alunos Fábio Darlan Antunes da Fonseca, Haelton Junio de Oliveira, Layla Merli Antônio Costa Coimbra, Letícia Souza Castro, Lucas Duarte Lourenço, na disciplina optativa “Textos de Exposições e Museus: Impressões em papel, tecnologias digitais e web writing” do curso de Museologia da UFMG, sob orientação da professora Ana Cecília Rocha Veiga.

REFERÊNCIAS

ANDRADE JÚNIOR, Luiz Fernando Campos de. Ocupa Belo Horizonte:
cultura, cidadania e fluxos informacionais no duelo de MCs. 284f.
(Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação. Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de
Minas Gerais. 2013.

ARQUIVO PUBLICO. Construção do Viaduto (Santa Tereza). Disponível em: <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fotografico_docs/photo.php?lid=32996> / Acesso em: 14 de Nov. de 2019.

LABORATÓRIO DE FOTODOCUMENTAÇÃO SYLVIO DE VASCONCELLOS. Disponível em: <http://www.arq.ufmg.br/museu/index.php/laboratorio-defotodocumentação-sylvio-vasconcellos>/ Acesso em: 14 de Nov. de 2019.

PERDIGÃO, João. Viaduto Santa Tereza (1a ed.). Belo Horizonte: Conceito, 2016.

BELO HORIZONTE. Praça Rui Barbosa – Praça da Estação. Disponível em: <http://www.belohorizonte.mg.gov.br/local/servico-turistico/espaco-para-evento/aberto/praca-rui-barbosa-praca-da-estacao>/ Acesso em: 14 de Nov. de 2019.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *