A Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais foi inaugurada em 1954 com a missão de promover a difusão da cultura geral na cidade. Abriga um precioso acervo composto por cerca de 570 mil exemplares, tais como livros, folhetos, obras raras, periódicos, mapas, quadrinhos e mídias digitais. Neste post vamos conhecer um pouco mais da história desta tradicional instituição, tão importante para a vida cultural de Belo Horizonte!
Uma biblioteca para Minas: como tudo começou
A instituição de uma biblioteca pública em Minas Gerais foi um antigo desejo de nossos antepassados, mas nos tempos idos, predominavam as bibliotecas particulares.
No século XVIII, apesar da censura e do controle da Coroa Portuguesa, diversos livros que questionavam os costumes e o regime político vigente adentraram a região, como evidencia as bibliotecas pessoais confiscadas dos inconfidentes Cônego Luiz Vieira, Cláudio Manoel da Costa, Padre Toledo, Alvarenga Peixoto e José Rezende Costa.
Em 1894, foi instituída a Biblioteca Municipal de Belo Horizonte, por determinação de alguns integrantes da Comissão Construtora da capital. Até a abertura da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, Belo Horizonte tinha somente uma biblioteca pública.
Subordinada à Prefeitura Municipal e estabelecida na Rua da Bahia, esquina com a Avenida Augusto de Lima, a Biblioteca Municipal havia sido criada respeitando a visão de “modernidade”, que orientou a concepção da nova capital mineira por volta dos anos de 1893 a 1897.
A Sociedade Literária de Belo Horizonte funcionou numa antiga casa no Largo da Matriz da Boa Viagem, tendo Aarão Reis como presidente honorário e adotando como sistema os padrões típicos da biblioteconomia norte-americana.
O desejo de fundar uma biblioteca estadual prosseguia e, depois de muitas iniciativas fracassadas, em 1954 este sonho se tornou realidade.
Palimpsesto urbano: o eclético dá lugar ao modernismo
O terreno onde hoje se encontra o prédio sede da Biblioteca Pública Estadual já abrigou, em 1907, a primeira filial do Instituto Manguinhos do Rio de Janeiro.
O edifício de ciência e tecnologia foi executado pela Comissão Construtora da Nova Capital, ampliando os estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em território nacional. A Fundação passou a ser chamada de Instituto Ezequiel Dias a partir do ano de 1923 e ficou, naquela época, conhecida como “serpentário”, após a construção dos cativeiros de ofídios.
Luís de Morais Júnior foi o arquiteto responsável pela reforma e ampliação da sede, que seguia o estilo eclético, tão característico das primeiras décadas da capital mineira. Ornada com argamassas e balaústres, tinha em sua estrutura tijolos de cerâmica e telhas francesas.
Apagar para recomeçar: as curvas de Niemeyer
Em 1954, o apagar para recomeçar tomou curso: nascia o projeto da primeira Biblioteca do Estado de Minas Gerais, gestado em sua capital.
Oscar Niemeyer, a pedido de Juscelino Kubitschek, reescreveu em linhas curvas horizontais e traços verticais o novíssimo prédio que abriga atualmente a Biblioteca Pública Estadual, no terreno onde um dia foi o serpentário.
As curvas de Niemeyer abraçam um acervo de cerca de 570 mil exemplares, atendendo a todas as idades e interesses, estimulando o prazer da leitura e da busca pelo conhecimento. Conta, ainda, com mais de 100 mil associados e recebe cerca de 300 mil pessoas a cada ano.
A biblioteca homenageou, em seu primeiro nome, o professor Luiz de Bessa, amigo de Eduardo Frieiro, primeiro Diretor da Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerais.
Com o tempo a biblioteca cresceu e passou a ocupar espaço na antiga Secretaria de Estado da Fazenda. A instituição precisava crescer, sem alterar contudo o edifício de Oscar Niemeyer, que havia sido projetado com cinco andares, dos quais apenas três se concretizaram.
Um novo anexo foi então providenciado, com também três andares, abrigando o acervo de empréstimo, setor de referência, além das salas de estudos, cursos e de Internet.
Em 2017, o nome da biblioteca mudou de “Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa” para “Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais”. Passou a se chamar “Edifício Luiz de Bessa” o prédio que abriga a biblioteca. Para os belorizontinos, ganhou curtos apelidos, como “biblioteca pública” ou “biblioteca da Praça da Liberdade”.
Um encontro marcado congelado no tempo: estátuas de bronze
Murilo Rubião “caminha” para a entrada da Biblioteca Pública. Com seu exemplar do Suplemento em mãos, nos leva ao encontro dos quatro “cavaleiros do apocalipse”: Fernando Tavares Sabino, Hélio Pellegrino, Otto de Oliveira Lara Resende e Paulo Mendes Campos (foto abaixo).
Os personagens de um eterno “encontro marcado” dão as boas vindas aos leitores da Biblioteca Pública. São estátuas de bronze em tamanho natural, que desde 2005 homenageiam estes grandes escritores, bem como animam os muitos selfies dos visitantes.
Setores e programações para todos os públicos e gostos
A biblioteca abriga vários setores, sendo alguns:
- Setor de Braille: Desde 1969, o setor conta com apoio de voluntários para a acompanhamento, leitura, gravação e transcrição de livros para conteúdos acessíveis, como os audiolivros, textos em braille e vídeos. É possível acessar a Internet neste setor por meio de softwares leitores de telas, à exemplo do NVDA.
- Setor Infanto-juvenil: Além do vasto acervo, o setor conta com espaços lúdicos e interativos para a mediação da leitura por meio de eventos culturais, contação de histórias, teatro, brinquedoteca, etc. Desde 2002, o setor foi nomeado Sala Lúcia Machado de Almeida, em homenagem à criadora de “O Caso da Borboleta Atíria”, clássico infantil da Coleção Vaga-lume.
- Setor de Coleções Especiais: Com mais de 68 mil exemplares, este setor tem como missão a manutenção do patrimônio literário e cultural das Minas Gerais, especialmente através da Coleção Mineiriana. Obras internacionais também se encontram ali, como o Concordia Discodantim Canonums, publicação alemã do século XV.
O espaço tem vários programas de atendimento ao público geral, que inclusive pode fazer sugestão para aquisição de livros novos ao acervo.
Também existem programas culturais de incentivo à leitura, tais como caixa-estante, carro-biblioteca, aula na biblioteca, exposições temáticas do acervo e serviços digitais. A instituição realiza, ainda, assessorias técnicas para profissionais da área.
A importância da Biblioteca Pública
A Biblioteca é um ambiente no qual as discussões, os contrastes, as contradições e os jogos de força que percorrem as relações entre os indivíduos e a sociedade se condensam e se fazem explícitos.
Integrante de destaque no Circuito Liberdade, o seu reconhecimento social como palco do saber, da cultura e dos embates sociais nos levam à considerá-la um dos equipamentos culturais mais relevantes da cidade de Belo Horizonte e, de uma forma ampla, também do Estado.
A Biblioteca Pública contribui diariamente para a vida intelectual da cidade, mantendo e construindo os vestígios de sua história. Suas estantes abrigam as reflexões e as memórias de gerações de mineiros, que nas muitas páginas de seus livros podem agendar um encontro marcado com a Liberdade.
Texto desenvolvido pelos alunos Diogo Roberto da Silva Andrade, Marco Tulio Macedo Gonçalves, Priscila Batista Tôrres de Lacerda e Rodrigo Ferreira da Costa, na disciplina optativa “Textos de Exposições e Museus: Impressões em papel, tecnologias digitais e web writing” do curso de Museologia da UFMG, sob orientação da professora Ana Cecília Rocha Veiga.
Referências
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SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS. 60 anos da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, n. 1.354, maio/jun. 2014, 40 p. Edição especial. Disponível em: <http://www.bibliotecapublica.mg.gov.br/index.php/pt-br/suplemento-litelario/edicoes-suplemento-literarios/2014-1/36–36/file>. Acesso em: 27 maio 2019.
É importante enaltecer a cultura em momentos tão sombrios (mundialmente). O veículo para o conhecimento é, e será, a leitura.
A BPESMG merece receber esse carinho e mostrar para o público o valor literário que temos na cidade.
É verdade! A leitura é fundamental neste processo de combate ao obscurantismo. E a Biblioteca Estadual tem um papel central na educação e na cultura em Belo Horizonte e em nosso Estado. Obrigado pelo seu comentário!